Capas


sábado, 3 de março de 2012

Carta de São Miguel


Olá meu filho, se é que me permite chamá-lo assim!?


Não sou tão velha, sou de 28 de novembro de 1961, e desde de lá estou acolhendo a todos que aqui chegam, trato um por um como filho, dou-lhes terra fértil, dou-lhes rios, enfim, uma natureza rica e exuberante.

No Centro de meu coração, saudáveis bosques, estradas para o seu passeio com a família, Glamourosas noites estreladas, amanheço e anoiteço mostrando sempre o que de melhor há em mim para que você se sinta feliz. 


Eu tenho muito a lhe mostrar, porém estou triste, aborrecida, me sinto traída e abandonada. 


Os meus rios que outrora foram majestosos estão comprometidos com o lixo e com a falta de cuidado com as margens – as árvores foram tombando uma a uma para dar lugar ao seu anseio de progresso.


Minhas noites estreladas não mais são lembradas, apenas por alguns que também acolhi, e como a todos os outros chamei de filho, e que apesar de tudo insisti em querer para si o que de direito e de seu irmão.


Sofro cada dia mais, pois vejo os meus filhos se odiando, se matando uns aos outros por ganância, vicio ou por migalhas. Logo eu que lhes dou tanto, tenho que assistir cenas como essas em minhas ruas que antes bem cuidadas, agora esburacadas pela marcha infundada do seu nada organizado crescimento.

Não suporto mais ver meus filhos com dengue, logo dengue? Basta você cuidar de mim e a dengue não o afetará. 

Já sei filho, você deve estar me achando uma velha chorona, talvez você tenha razão, talvez a culpa seja minha mesmo, na minha presa de querer lhe fazer feliz acabei esquecendo até de mim.

Apesar de minha tristeza querido filho, saiba que estarei sempre aqui com minhas noites estreladas e meus dias ensolarados para que você aproveite ao máximo a sua existência. 


Como eu gosto de ver você e sua família passeando pelas minhas ruas, isso me faz lembrar dos bons tempos em que juntos nós éramos felizes, em que eu e você éramos apenas um, ainda tenho filhos assim, mas também tenho filhos que estão distantes e que esqueceram de ser recíprocos a tudo que eu lhes ofereço.

Faça algo por mim, não sou tão velha e já me sinto cansada. 
Por favor, meus filhos não esqueçam jamais de mim, Me ajudem.

Carinhosamente, sua sempre:

São Miguel do Iguaçu



Cláudio Albano

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