O que é ser criança, afinal? Pode parecer ser apenas uma pessoa pequena, que precisa e depende de um adulto. Pode parecer ser uma pessoa que não tem muitos conhecimentos, afinal de contas, uma criança nunca sabe exatamente o risco que corre ao querer brincar com fogo, jogar bola na rua, andar de bicicleta, empinar pipas, fazer experiências estranhas em casa, só para ver o que acontece, desmontar um brinquedo para tentar entender como ele funciona.
Ser criança pode parecer não gostar de ir para a escola para estudar, e sim para brincar e rir com os amiguinhos, poder falar com eles sobre coisas que seus pais parecem não entender. Falar sobre os heróis dos desenhos animados que seus pais podem não conhecer, falar dos carrinhos Hot Wheells, do novo kit da Polly, dos novos jogos da rede de Internet e poder contar à eles a aventura que foi a disputa na lan house. Falar do msn, do orkut e dos sites de fliperamas. Tudo isso pode ser um choque para os pais, que imaginam ser os únicos heróis de suas crianças!
Ser criança pode ser tudo isso e muito mais. Pode ser simplesmente rir e se divertir com as pequenas coisas, e olhar para o alto querendo ser um adulto, achando fantástica a grandeza de seus pais!
A certeza absoluta é que ser criança é um processo da mais absoluta dependência do outro, para a independência! Embora, poucas são as pessoas que se dão conta disso!
Ser criança nada mais é do que querer ser adulto. E quando chega a ser adulto, vem a vontade de querer ser criança, e ainda permanece dependente do outro, do olhar, do carinho, da compreensão, do amor! Parece não haver nada mais tão contraditório no processo do ser humano! Achamos que, quando adulto, deixamos de depender do outro!
E ainda, trocamos a fascinação dos carrinhos e das Pollys pelos novos modelos de celulares, de carros, de tecnologia. O herói, agora, é um empresário bem sucedido. As conversas com os amigos, muitas vezes, tratam dos valores que pagamos pelos inúmeros objetos de consumo. E queremos contar, com grande entusiasmo, como conseguimos superar aquele desafio em nossa profissão!
Que bom seria se a criança pudesse se tornar um adulto, desenvolvendo o senso de responsabilidade, tendo clareza das regras que agora, irão lhe cercar, com consciência adequada dos riscos que poderá correr (se bem que nunca conhecemos exatamente os riscos aos quais estamos sujeitos) porém, sendo imune à ganância e ao desejo de querer ser mais que o outro.
Que o adulto possa ser simplesmente uma criança crescida, com a responsabilidade de pensar que, além dele, existe o outro, e com a vontade de estar sempre em busca de novos conhecimentos que irão lhe agregar valores como pessoa e não como consumidor. Afinal de contas, quando a criança quebrou aquele brinquedo que custou uma fortuna, ela não pensou no valor, mas certamente, em tentar descobrir o que tem lá dentro, que ela não conhecia. Que os adultos possam fazer o mesmo em seus relacionamentos, com crianças e com crianças crescidas!
Texto escrito por Ssmaia Abdul, pessoa e psicóloga
apaixonada pela sinceridade e espontaneidade