Capas


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Ecce homo

A madrugada era chuvosa e embora não estava na estação de inverno, o tempo fazia com que assim parecesse.

Na recepção do hospital um homem, jovem, estava sentado em uma das poltronas, solitário, cabeça baixa, com celular em uma mão e as chaves do carro em outra. O olhar fixo na chuva que cai na vidraça e o pensamento vago, estava se sentindo inútil. A mulher que ele ama esta neste momento sofrendo, sentindo dores inimagináveis por ele e não podia fazer absolutamente nada se não esperar.

Lembra como se fosse hoje o momento que a conheceu. Era um sábado a noite, uma festa com os amigos da escola, bebidas, cigarro e Legião tocando a todo volume. Sim, ele era da geração coca-cola, um rebelde procurando algo para lutar, tentando buscar no fundo da alma um motivo para continuar a vida.
Em outro canto da sala, junto com as colegas de escola, ela apareceu. Loira, linda, corpo escultural e um sorriso contagiante. Era nova na cidade, há pouco tempo tinha chegado e essa era a primeira festa que participava. Todos os seus amigos a olhavam, desejavam, ele também...

Mas foi justamente ele quem viu o algo mais, não apenas a beleza e o corpo escultural, ele sentiu o sorriso e o olhar. Um olhar capaz de mexer com o coração de um rapaz de 19 anos.
Buscou as informações necessárias para poder se aproximar, descobriu que estava na mesma turma do colégio, o nome, onde morava e o mais importante, estava sozinha, sim, era ela o motivo que ele precisava para entender a sua luta, a batalha seria pelo amor.

Não foi fácil, decorreu um ano. Um ano de conversas, declarações de amor, cartas e decepções, mas como bom soldado, mesmo perdendo batalhas, se levantava e continuava. Até que um dia, na biblioteca onde faziam um trabalho escolar, chegou o primeiro beijo. A sensação não lhe sai da cabeça até os dias de hoje, três anos se passaram desde aquela festa e ele ainda lembra de tudo.
Agora, a mulher, que lhe deu uma razão de vida, que transformou sua alma estava sofrendo e ele não podia fazer nada.

Uma enfermeira vem ao seu encontro, ele continua imóvel, lógico que se importava mas estava agoniado, a sensação de panico não o deixava mexer um músculo. A enfermeira sorri e como que orgulhosa lhe transfere a noticia:
-Parabéns, é uma menina e está em perfeita saúde!

Abaixou a cabeça em uma oração silenciosa de agradecimento. A mulher que lhe dera um motivo para lutar o transformou novamente. Estava feliz, sim, nasceu uma menina, mas sentiu que nele havia morrido o menino e nascido um homem!

Cláudio Albano