Capas


domingo, 22 de maio de 2011

Quatro balas de hortelã

Acordou, como sempre, as cinco horas da manhã, foi tomar seu banho enquanto sua esposa fazia o café, vestiu sua roupa engolindo o café rapidamente, se despediu da esposa e foi até o quarto da pequena, olhou para sua filha, ela só tem seis anos, tão linda, um anjo, acariciou a menina, se despediu com um beijo na sua face e o pensamento de "Deus te Proteja".

A rua ainda estava escura, era friozinho para aquela época do ano, nenhum movimento, avistou o ponto de ônibus e lá estavam as mesmas três pessoas de todos os dias, conversaram algo que ele nem chegou a escutar direito pois o ônibus estava chegando, embarcou, estava lotado como sempre, trinta minutos depois chegou ao outro ponto, precisava trocar de condução, assim o vez, mais quarenta minutos e estava na fábrica, onde os trabalhos começam cedo, sempre as sete e trinta da manhã!

doze horas, horário do almoço, todos os três mil funcionários se dirigem ao "rancho", a comida é boa, neste momento lembrou de sua filha mais uma vez, será que esta tudo bem, esta se alimentando direito, e hora de tomar banho e ir para a escola, mas sua mulher lembra de tudo isso e tudo funciona como um relógio.
as treze horas volta ao trabalho, não tirava da cabeça o pedido da menina de todos os dias: "Pai, me traz balas de hortelã?" claro que sim, nunca esquecia, sua filha era a razão de todo aquele trabalho, de acordar cedo, de pegar ônibus lotado e de nunca desistir de lutar para buscar um futuro melhor para aquele anjo que tinha em casa.

Cinco horas da tarde, fim de expediente, hora de fazer o caminho de volta, quarenta minutos no primeiro ônibus, trinta minutos no outro. Mas o caminho de volta era especial, ele iria rever sua filha. "Não posso esquecer das balas!" Cansado do trabalho, passou na venda próximo a sua casa, contou as moedas, quatro balas de hortelã, foi o que deu, sua filha ficaria feliz!

Ao sair da venda, com passos largos para chegar logo em casa, ouviu um estampido, e outro e mais outro, sentiu algo que entrou em sua carne, rasgando, uma dor insuportável, pior que uma agulha lhe furando, não sentiu mais as pernas, tudo ficava escuro, sentiu apenas quando seu corpo tocou o chão em um impacto forte. Conseguia ouvir as pessoas e abriu os olhos por um instante, quando um policial que estava em pé ao seu lado esbraveja "mais uma vítima de bala perdida", lembrou, olhou para suas mãos, as quatro balas de hortelã, "minha filha, preciso entregar as balas para ela". em um esforço pegou na calça daquele policial, ele se abaixou e pedia calma.
Estava agonizando, abriu as suas mãos e alcançou as balas ao policial?
-Por favor! entregue para a minha filha.

Essas foram suas últimas palavras, o policial conseguiu encontrar a familia e entregou as balas de hortelã para a menina que chorava muito, deu uma palavra de consolo a esposa e partiu.

Não... essa historia não é verídica, mas infelizmente, poderia ser!

Cláudio Albano