O botequim é um templo. Pode sê-lo, também, estado de espírito. Os mais xexelentos então... Boteco é o reino onde os solitários se sentem comboiados de seus copos. Cismando. Refletindo. Arrazoando. Muitos, ainda que não desnudos, lembram O Pensador, do escultor parisiense Auguste Rodin.
Boteco é o habitat de confrades de copos ou tão somente o lugar de prosear com um amigo. Aliás, nada mais perfeito do que uma amizade de botequim. Os amigos não se visitam nas respectivas casas. Não tomam grana emprestada e não pedem para subscrever promissória.
No boteco fala-se de mulher – quase nunca da nossa –, e de política, música e futebol. Mas não vale debater de modo tenso. É que não se vai ao botequim para esquentar a cachola.
Camaradas de boteco são como namorados recentes: um quer acarinhar o outro e não divergem nunca.
O botequim é um lugar sagrado. Numa mesma prosa, um companheiro de ensina as saídas para os problemas materiais, um outro traz as últimas novidades para resolver as questões no plano sentimental. Desconfio de que até sejam melhores do que o gerente do banco, a psicanalista e a cartomante.
Repetidas vezes disse a minha analista: - Deixe seu consultório com mais cara de boteco. O botequim é mais democrático, os dois podem falar. Ela não me ouviu. No consultório freudiano ou junguiano do boteco, ora se é analista, ora se é paciente. Desisti.
Fui buscar os santos. E boteco que se preze tem de ter imagem de santo. São José de Ribamar, São Sebastião, São Jorge, São Lázaro, São Francisco de Assis, enfim. Mesa de botequim é quase um confessionário.
Boteco é um lugar sagrado. Recinto que inspira porres e papos, músicas e cantadas, frases e compassos, verdades e mentiras. Ainda que se sobreponha as mentiras sobre as verdades. Viva o botequim! Se Deus quiser e cachaça não faltar.