Trabalho para o curso de licenciatura em Sociologia UNIP - Aluno Cláudio Albano
Introdução
A sociologia surgiu de um desejo de entender e sugerir formas de
melhorar a sociedade moderna que nasceu do iluminismo, em especial os efeitos
da industrialização, da racionalização e do capitalismo. Mas, conforme a
disciplina da sociologia se tornou cada vez mais reconhecida no final do século
xx, ficou claro que existia uma outra força guiando a mudança social: a
globalização.
Desenvolvimento
Enquanto algumas
pessoas acham que o mundo entrou numa era pós-moderna e pós-industrial, outras
veem a globalização como uma simples continuação do processo de modernidade.
Zygmunt Bauman, por exemplo, argumenta que aquilo que começou com a
industrialização agora entrou numa era mais madura, “uma modernidade tardia’,
conforme a tecnologia foi se tornando cada vez mais sofisticada. A natureza do
progresso tecnológico implica que esse estágio seja caracterizado por uma
‘modernidade liquida’.
Talvez o efeito social
mais perceptível desses avanços tecnológicos tenha sido a melhora nas
comunicações. Dos telefones à internet, o mundo se tornou cada vez mais
interconectado, e as redes sociais agora transcendem as barreiras nacionais. A
tecnologia da informação não apenas acelerou as transações comerciais,
tornando-as mais fáceis do que nunca, como também conectou indivíduos e
comunidades que antes estavam isolados.
Manuel Castells foi um
dos primeiros a identificar os efeitos sociais dessa sociedade em rede,
enquanto Roland Robertson argumentava que, em vez de ter um efeito
homogeneizador (ao criar um modelo universal de sociedade), a globalização
estava, de fato, se fundindo com as culturas locais para produzir novos
sistemas sociais.
Outro aspecto da
modernidade tardia é a facilidade com que as pessoas agora viajam pelo mundo.
Assim como a migração do campo para as cidades depois da industrialização criou
novas estruturas sociais, a crescente mobilidade no final do século xx mudou
padrões sociais. A migração econômica tornou-se cada vez mais comum conforme as
pessoas se mudam não apenas em direção às novas cidades globais, mas
internacionalmente em busca de trabalho e prosperidade. Como Arjun Appadurai e
outros chamaram a atenção, isso levou a mudanças culturais, incluindo um
questionamento sobre como se formas as novas identidades.
Um
mundo em rede
A era da informação é
definida pela criação e disseminação de vários conhecimentos especializados,
como as flutuações dos preços internacionais do petróleo, dos mercados
financeiros etc. Nas sociedades capitalistas avançadas, redes de capital
financeiro e de informação estão no cerne da produtividade e da
competitividade.
A mudança da produção
de bens e serviços para a informação e o conhecimento tem alterado
profundamente a natureza da sociedade e das relações sociais.
Castells alega que o
modo dominante de organizar relações interpessoais, instituições e sociedade
inteiras são as redes. Além disso, a natureza maleável e aberta dessas redes
faz com que se espalhem por todo o globo.
Quando sociólogos
clássicos como Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber usam o termo “sociedade”,
eles se referem primordialmente aquela de um determinado estado-nação. Assim,
por exemplo, é possível falarmos da sociedade americana como algo distinto da,
digamos, britânica, apesar dos pontos em que são similares. Mas, na obra de
Castells, o estado-nação tornou-se o mundo e tudo nele. Já não existe o mundo
de estados-nações relativamente autônomos, com suas próprias sociedades
estruturadas para dentro – ele foi reimaginado como uma infinidade de redes que
se intersectam e se sobrepõem.
A ideia de um mundo
plenamente conectado, ligado pela internet, evoca imagens de pessoas em todos
os cantos do planeta se envolvendo produtivamente em diferentes tipos de
relações umas com as outras em redes em constante mudança – não mais restritas
pela geografia ou pela naturalidade, mas pela capacidade da imaginação humana.
Hoje é possível acessar informação 24 horas por dia através de ferramentas de
busca como o Google, e entrar em chats com pessoas que estão a milhares de
quilômetros de distância numa comunicação instantânea.
Castells elabora o
conceito de redes de diversos modos. A redes baseadas em microeletrônicos
definem a sociedade em rede e substituem a burocracia como a principal forma de
organização das relações sociais, porque elas são muito melhores em lidar com a
complexidade. Assim como as redes microeletrônicas incluem redes políticas e
interpessoais. O “estado em rede” inclui instituições políticas transnacionais,
como a União Europeia, enquanto vários exemplos de redes interpessoais são
criados através de internet, e-mail e sites de redes sociais, como o Facebook e
o twitter.
Castells diz que uma
rede pode ser definida assim: ela não tem um “centro”, é feita de uma série de
“nódulos” de importâncias vairadas, mas todos são necessários para que a rede
possa operar; o grau de poder social peculiar a uma rede é relativo, dependendo
de quanta informação ela é capaz de processar; uma rede só lida com um certo
tipo de informação – a saber, o tipo de informação que lhe é relevante; e uma
rede é uma estrutura aberta, capaz de se expandir e de se comprimir sem
limites.
Castells enfatiza os
altos níveis de adaptabilidade característicos de uma sociedade em rede. O
importante aqui é que uma ordem social organizada em redes e ao redor delas
pode alegar ser altamente dinâmica, inovadora e voltada a mudanças sociais
constantes e aceleradas. Castells descreve as relações sociais em rede como
“uma forma de atividade humana dinâmica e em autoexpansão”, que tende a
transformar todas as esferas da vida social e econômica.
Considerações Finais.
Independentemente de a
sociedade em rede ser uma novidade ou ser benéfica, não há dúvida de que o
mundo está cada vez mais interconectado e dependente das tecnologias digitais,
que estão mudando as relações sociais. Para Castells, a ascensão da sociedade
global atada por uma miríade de redes é, em última instância, algo positivo.
Capacitar pessoas de lugares longínquos a interagir oferece o potencial para a
humanidade usar recursos produtivos coletivos para criar uma nova ordem mundial
iluminada. Ele argumenta que, se “estivermos informados, ativos e nos
comunicarmos pelo mundo afora”, “poderemos nos afastar da exploração do eu
interior, fazendo as pazes com nós mesmos”.
BIBLIOGRAFIA:
BAUMAN, Z. Ética pós–moderna. São
Paulo: Paulus, 1997.
________. Modernidade líquida. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
________. Amor líquido. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2004.
BECK, U. A reinvenção da política: rumo a uma
teoria da modernização reflexiva. In: GIDDENS, A.; BECK, U.; LASH, S.
(Orgs.). Modernização reflexiva. São Paulo: Unesp, 1997.
GIDDENS, A. Modernidade e identidade.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
Castells, Manuel. A sociedade em rede, vol 1.- São
Paulo: Paz e Terra, 1999.
______________. O Poder da Identidade. A Era da
Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Vol.2.São Paulo: Paz e Terra,
1999.
APPADURAI, Arjun. Modernity at Large. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1997.
ROBERTSON, Roland. Identidade Nacional e
Globalização: Falácias Contemporâneas. In BARROSO, João Rodrigues (org.) Globalização
e Identidade Nacional. São Paulo: Atlas, 1999.
RIESMAN, D. A multidão solitária. São
Paulo: Perspectiva, 1971.
O livro da sociologia. Tradução
Rafael Longo – 1ªed. – São Paulo: Globo Livros, 2015