Em uma cidade pequena, ao norte da Alemanha, no ano de 1962 a população estava preocupada com o número exagerado de crimes que estavam acontecendo.
Reunidos em uma sala estavam as mais altas autoridades da pequena e antes pacata cidade, para a surpresa do superintendente de justiça recém nomeado, ali sentados, também marcaram presença os proprietários dos principais jornais e rádios. Todos conversavam em tom amigável com o representante do chefe de estado.
A reunião tinha como tema principal a diminuição da criminalidade, pois estava afetando diretamente a popularidade do mandatário maior. O superintendente havia chegado a menos de uma semana e ainda estava fazendo levantamentos sobre os casos, tentando se inteirar da situação, com pouco tempo ainda não tinha uma definição de qual caminho tomar. Havia pedido um prazo maior, mas achou conveniente comparecer a reunião para ter o maior número de informações possíveis!
-Senhores, estamos diante de um problema grave e o chefe quer uma solução imediata pois tal situação está pondo em cheque a sua gestão -Disse o chefe de estado em tom de preocupação.
O superintendente pensativo, notou os olhares voltados para ele!
-Ainda não tive tempo para fazer o levantamento da situação, como sabem, cheguei a pouco tempo e preciso identificar as áreas de maior risco e só assim estudar a melhor forma de agir, porém, uma coisa é certa, precisamos de investimentos para deixarmos nossa força policial a altura da criminalidade!
O chefe de estado com olhar conspiratório tinha certeza de que o superintendente não teve o tempo necessário! Ora, foi por isso que marcou a reunião apressadamente. Sorrindo para os empresários do ramo da informação falou entoando sabedoria e calma!
-Estamos cientes disso meu caro senhor, por isso, tomamos a liberdade de traçar um plano para que a situação seja estabilizada. A população está aterrorizada, o que é absolutamente compreensível quando vemos as noticias dos nossos jornais e rádios, que cumprem brilhantemente o seu papel, por isso a presença desses senhores aqui hoje. -Estendeu a mão apontando para os proprietários de rádios e jornais -Como sabemos que a policia está com dificuldades, para acabar com o problema, resolvemos: -Deu uma pausa -Os casos não serão mais divulgados pela imprensa, portanto quando menos o povo souber, menor será o pânico e assim podemos esperar o tempo necessário para a ação da justiça, em contra partida a esse ato de apoio da imprensa local vamos criar um repasse de verbas para jornais e rádios em forma de propaganda, tudo para garantir a subsistência de tais meios! -Olhando para o superintendente concluiu: -e diante de todos prometo estudar os investimentos na policia local.
Palmas ecoaram de todos os cantos da sala, menos do superintende!
Em um mês a população estava calma, sem noticias de prisões ou ações da policia, mas também sem noticias de crime algum. A vida voltou ao normal e a cidade estava novamente pacata aos olhos dos moradores. Não houve um plano de aparelhamento para a força policial, mas como tudo parecia normal, isso não foi necessário.
O superintendente entendeu que a mídia determina se uma cidade é ou não violenta!
Cláudio Albano
Obra de ficção