Versão escrita do Stand up de Bruno Mazzeo que parou o programa do Jô:
Oi, Meu nome é Hilário, eu vim aqui por que cheguei no fundo do poço.
No começo a gente acha que é só uma fase que vai passar mas quando percebe a gente está no fundo do poço, por isso eu vim aqui, por que eu quero mudar, eu vou mudar. Por isso procurei o contador de piadas anônimos.
Eu comecei a perceber que eu era um contador de piadas compulsivo muito novo ainda no colégio, quando no recreio meus amigos iam brincar de pic-esconde, pega pega, policia e ladrão e eu só queria saber de contar piadas.
Minha primeira experiência ainda inocente foi com o que um ponto amarelo num alto de um prédio? Um fandango suicida. Um vi um tio falando isso e fiquei fascinado pelas piadas de pontinho amarelo, sabia todas, e outras tão inocentes quanto, como conhece a piada do não e nem eu, não e nem eu. Ou quando de sobremesa minha mãe dizia que ia servir pavê e eu perguntava é pra vê ou pra come. Ficava contando os dias esperando o carnaval chegar só pra perguntar pra um amigo se ele ia ver a mangueira entrar.
Os meus pais não se importavam com isso, por que meu pai contava piada em casa, e ele nem percebeu quando no colégio eu parei de lanchar, juntei dinheiro de dois meses da merenda e comprei um livro de anedotas do Ari Toledo. Me lembro da satisfação quando li ali na página 14 que um casal de portugueses ia embarcar para Lisboa levando com eles um gambá de estimação, mas o gambá não podia entrar no avião então o Manoel disse pra Maria, esconde embaixo da saia, ela falou, mas é o cheiro? ele disse, o gambá que se dane, eu fiquei fascinado.
Aquilo mexeu comigo, é uma coisa leva a outra, eu comecei a pegar mais pesado, um professor achou na minha mochila um disco do Costinha e então meus pais foram chamados no colégio.
No colégio eu não conseguia responder mais nenhuma pergunta era só na base da piada. Quando um Professor perguntava pra mim por exemplo, o que é um Chiita? Eu dizia que era a maacaca do Taarzan.
Eu me lembro uma vez com dona Olga, Professor de historia, muita simpática, ela era baixinha, mas muito baixinha e eu dizia que ela não poderia usar OB se não tropeçaria na cordinha, a turma inteira ria mas dona Olga não gostou muito.
Eu fui expulso do colégio, depois de outro, e de outro, então eu tive que parar de estudar por que eu tava pegando muito pesado, eu estava começando a achar o João Kleber engraçado.
Aos poucos fui perdendo meus amigos, por que se um amigo me ligava precisando de um ombro amigo, de uma palavra de carinho por que tinha perdido a mulher eu contava uma piada de corno, outro dizia que estava passando necessidade eu contava uma piada de pobre, era só piada, piada, piada. Estava quase tendo uma overdose porque eu misturava. Misturava tanto que uma vez eu contei uma piada de um papagaio português que era viado e se chamava Isac.
A minha vó morreu de desgosto, meus parentes não falavam comigo, eu ligava pra eles e era obrigado a contar minhas piadas na secretaria eletrônica por que eles não me atendiam mais.
Eu não tinha amigos, eu não tinha familia, eu não tinha trabalho, eu passava necessidade, eu me alimentava graças a bondade do Seu Vasco, português, dono do botequim perto da minha casa, ele tinha pena de mim, me dava de comer duas vezes por semana. E assim foi até que eu contei pra ele que um casal de português foi ao ginecologista por que ela estava com pintas de pontas azuis perto da virilha e o médico perguntou pra o Manoel se ela fazia sexo oral com a esposa, ele respondeu que sim, então o medico disse: Na próxima tira a caneta de traz da orelha.
Seu Vasco não gostou muito, virou-se pra mim é disse: Hilário você sabe que não deve contar uma piada assim para um português e eu disse: Não tem problema, eu conto de novo para o Sr. entender. Mas não era essa questão, a questão e que português não gosta de ouvir piadas de português, mas eu tinha que contar uma para o único português que eu conhecia.
Mas agora eu estou aqui, estou aqui por que eu quero mudar, eu vou mudar. O importante e não fazer o primeiro trocadilho, há três dias eu não conto uma piada sequer. Só por hoje!
Abraços
Cláudio Albano
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